Morfometria do coração de filhotes de Podocnemis expansa Schweigger, 1812 (Testudines: Podocnemididae)
Palavras-chave:
Sistema cardiovascular, Morfologia, QuelôniosResumo
O coração da tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) é um coração tipicamente de quelônio, possui quatro câmaras principais: um seio venoso, átrios direito e esquerdo e um ventrículo constituído por três subcâmaras interligadas: cavum pulmonale, venosum e arteriosum, que são parcialmente delimitadas pelos septos: horizontal, vertical e bulbolamelar (bulbuslamelle). A morfometria fornece informações essenciais sobre a estrutura e função do coração e úteis no diagnóstico de distúrbios cardíacos, além de elucidar possíveis variações anatômicas intra e interespecíficas e ainda há uma carência de estudos morfométricos e ontogenéticos com coração de tartarugas. Objetivou-se mensurar peso, comprimento e largura do coração, bem como a espessura das paredes marginais esquerda (PME) e direita (PMD) do miocárdio ventricular de filhotes de P. expansa, nos três primeiros anos de vida. Para tal foram utilizados corações de 62 espécimes, sendo em média 20 por ano de vida, doados do Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos e Quelônios Aquáticos (CPPMQA) localizado em Balbina, Amazonas. Verificou-se que o peso médio (em g) dos corações foi 0,758±0,609; 1,920±0,479 e 3,175±0,585, no primeiro, segundo e terceiro ano de vida, respectivamente. O comprimento médio (em cm) do coração foi de 0,766±0,241; 1,33±0,200 e 1,571±0,091, enquanto a largura (em cm) 1,342±0,338; 1,843±0,175 e 2,322±0,186, no primeiro, segundo e terceiro ano de vida, respectivamente. Houve um crescimento exponencial do coração dos filhotes nesse período. O comprimento e a largura foram equivalentes já nos primeiros anos de vida, esse achado é compatível com um coração de formato mais arredondado, comumente descrito para mamíferos e répteis com comportamento de mergulho com apneia. No entanto, no primeiro ano de vida houve maior espessura da PME do miocárdio ventricular em relação à contralateral (1,315 ± 1,246; 1,003 ± 0,927 mm, p< 0,05, respectivamente), porém essa diferença não foi observada nos anos subsequentes. A maior espessura da PME é uma particularidade frequentemente descrita para animais terrestres, enquanto para aquelas com comportamento de mergulho com apneia, essa diferença não é significativa. As tartarugas adultas apresentam adaptações morfofisiológicas que as permitem ficar muito tempo debaixo d’água em apneia, com desvio do fluxo sanguíneo cardíaco. O desvio da esquerda para a direita acontece quando as tartarugas respiram na superfície e o da direita para a esquerda quando em mergulho em apneia. Portanto, a morfometria do coração de filhotes de P. expansa nos três primeiros anos de vida foi uma indicativa de uma adaptação ao mergulho. No primeiro ano de vida sugere-se que esse diferença significativa entre a espessura de PME e PMD seja indicativa de comportamento compatível com filhotes em um processo de adaptação ao mergulho com apneia e com o passar do tempo, à medida que se intensifica, há uma aumento da espessura de PMD em resposta a sobrecarga pulmonar durante mergulhos mais prolongados e ao desvio da esquerda para direita.