Modelagem de distribuição potencial como ferramenta para preenchimento de lacunas de distribuição de plantas endêmicas da Bacia Potiguar, Nordeste do Brasil

Resumo

Ferramentas de Modelagem de Distribuição de Espécies (SDM) têm sido amplamente utilizadas para prever áreas de ocorrência potencial de espécies, principalmente em cenários de mudanças climáticas, elevada fragmentação de habitats e bioinvasões. Essas modelagens permitem integrar dados de ocorrências conhecidas com variáveis ambientais, interações bióticas e influências antrópicas, gerando informações que podem ser úteis para a conservação e manejo de espécies ameaçadas. Inserida na abordagem da SDM, a Adequabilidade Ambiental (ESM) (ou Modelagem de Nicho Ecológico) inclui dados bioclimáticos e outras condições ambientais que moldam a distribuição de uma espécie. Dentre as espécies da flora brasileira com distribuição geográfica pouco conhecida, está a espécie herbácea Borreria apodiensis E.L.Cabral, L.M.Miguel & E.B.Souza, uma Rubiaceae Juss. endêmica dos afloramentos calcários da Chapada do Apodi, na Bacia Potiguar. Devido a estas características, B. apodiensis se tornou um modelo adequado para a aplicação destas ferramentas. Nesse sentido, o presente estudo objetivou utilizar a modelagem de adequabilidade ambiental para analisar a distribuição conhecida e potencial de B. apodiensis, a fim de fornecer subsídios para sua conservação. Assim, buscamos desenvolver um modelo para B. apodiensis, analisando sua distribuição conhecida e potencial. Para tal, os dados georreferenciados de ocorrência da espécie foram provenientes de coleções de herbários, bases de dados online e de excursões a campo. Para dados bioclimáticos, foram utilizados conjuntos de dados do pacote WorldClim. A geração de modelos de adequabilidade ambiental foi realizada no ambiente de programação estatística R, utilizando o modelo de aprendizado de máquina Maxent. A aplicação web GeoCAT e o software QGIS foram utilizados para a criação de mapas e para análise de indicadores como área de ocupação (AOO) e extensão de ocorrência (EOO), importantes para a categorização do grau de ameaça de extinção, de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Utilizando o modelo Maxent, foi gerado um mapa de consenso, consolidando 20 projeções de mapas de adequabilidade ambiental, os quais foram cruzados com dados sobre geodiversidade, concentrações urbanas e áreas protegidas no Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. Baseando-se nos dados de ocorrência de B. apodiensis, chegou-se aos valores para AOO e EOO, os quais podem categorizar a espécie nas categorias de ameaça “Em Perigo” (EN) e “Vulnerável” (VU), respectivamente. Entretanto, recomendamos que a espécie seja tratada na categoria EN, devido ao caráter descontínuo dos afloramentos calcários. A partir de dados sobre geodiversidade, foi possível observar a inserção do solo com prevalência de calcário dentro da área de adequabilidade predita. Os resultados observados permitem uma avaliação inicial da distribuição conhecida e potencial da espécie B. apodiensis, onde a maioria das ocorrências foi registrada em áreas preditas como de alta adequabilidade, entre 60% e 80%. Registros em afloramentos isolados, como Jandaíra (RN) e Iguatu (CE), corroboram que a distribuição da espécie depende das características alcalinas do substrato. Futuramente, é importante verificar, todavia, a presença da espécie em áreas preditas com alta adequabilidade em que não há coletas. Dessa forma, novos dados servirão para testar e melhorar o modelo.