Atravessando os becos da memória: trajetórias escolares de estudantes negros/as do curso de licenciatura em Pedagogia – Campus Angicos
Palavras-chave:
Narrativas (auto)biográficas, Educação étnico-racialResumo
A presente pesquisa focaliza as memórias com o objetivo de investigar como as experiências de vida, especialmente de grupos marginalizados, moldam suas identidades. Com foco nas narrativas (auto)biográficas de estudantes negras de licenciatura em Pedagogia – Campus Angicos, buscamos, portanto, compreender como essas histórias de vida e suas memórias desafiam as narrativas dominantes e influenciam a formação de suas identidades sobretudo em sua relação com a educação. Nesse sentido, analisamos como as memórias de infância e as trajetórias escolares são construídas e quais os significados que as estudantes negras atribuem a essas experiências. Além disso, almejamos desvelar os mecanismos de poder que perpetuam as desigualdades raciais nas escolas e como o racismo se manifesta no dia a dia escolar. Nos fundamentamos teoricamente em autores/as como Conceição Evaristo (2007), Grada Kilomba (2019), Passeggi (2016), Frantz Fanon (2008) e Bell Hooks (2022), que abordam temas como racismo, identidade, narrativas e currículo. Evocamos tais autores/as por nos oferecerem um rico panorama sobre a interseccionalidade da opressão, negligência e potências que não podem ser perdidas ou esquecidas. Metodologicamente, adotamos uma abordagem qualitativa, utilizando a entrevista narrativa como principal ferramenta para a produção do material empírico. Inicialmente, produzimos um roteiro contendo três categorias – etapas da escolarização, questões de raça e formação –, esse roteiro ajudou a guiar as entrevistas, mas sempre foi deixado espaço para outras discussões e apontamentos. Assim, deu-se a etapa das entrevistas com as estudantes negras do curso de Licenciatura em Pedagogia do Campus Angicos, focando em explorar suas memórias escolares e os significados que foram atribuídos por elas, fossem eles positivos ou negativos. Para aprofundar a análise e garantir veracidade em suas colocações, utilizamos um diário de campo para registrar cada entrevista feita. Os resultados evidenciam a importância das narrativas (auto)biográficas para compreender as experiências de estudantes negros/as, em diferentes etapas da escolarização. As memórias escolares das entrevistadas revelam a presença do racismo e da discriminação, bem como micro agressões e a ausência de representatividade em diferentes momentos de suas trajetórias vividas, que se estenderam para além da sala de aula, como nos artefatos culturais – filmes, novelas, desenhos, literatura etc. Ao longo de muitos anos, esse conjunto de fatores atuou de forma cumulativa, configurando as identidades e expectativas dessas discentes de modo a perpetuar desigualdades e baixa autoestima. No entanto, as falas e ações também demonstram resiliência e resistência, com as participantes construindo narrativas alternativas e desafiando os discursos dominantes tanto para si, quanto para seus/suas alunos/as. Portanto, é necessário reconhecer que as memórias escolares das participantes são produtos de um contexto social marcado por desigualdades raciais. Logo, as narrativas (auto)biográficas funcionam como um espelho da realidade escolar, refletindo as práticas pedagógicas e as relações de poder estabelecidas. Ao analisar essas narrativas, é possível identificar os pontos de tensão e as oportunidades para a transformação. Ao dar voz a essas vivências, as estudantes convidam em suas práticas outros/as educadores/as e gestores/as a refletir sobre suas condutas e a buscar alternativas que promovam a equidade e valorização da diversidade.