O agente comunitário de saúde e o cuidado em saúde mental a usuários de substâncias psicoativas: cenários e desafios
Palavras-chave:
Saúde Mental, Substâncias Psicoativas, Agentes Comunitários de SaúdeResumo
No Brasil, mesmo mediante os avanços no campo da Saúde Mental e Atenção Psicossocial dos últimos anos, o cuidado em saúde aos usuários de substâncias psicoativas na atenção primária ainda enfrenta desafios especialmente ligados à qualificação das equipes de profissionais e a ausência de atividades educativas voltadas a esse grupo. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), essenciais para o vínculo entre os serviços de saúde e comunidade, frequentemente não possuem formação específica para lidar com a dependência química e os transtornos mentais, resultando em falhas na assistência e na continuidade do cuidado. Ademais, o estigma e o preconceito em relação ao uso de substâncias psicoativas dificultam a abordagem direta aos usuários e seus familiares, comprometendo a eficácia das ações de saúde mental na atenção básica. O presente estudo teve como objetivo analisar o papel dos ACS no cuidado em saúde mental desses usuários e identificar os desafios enfrentados. Trata-se de um estudo qualitativo descritivo, realizado a partir de entrevistas semiestruturadas, junto a 17 ACS atuantes em cinco unidades básicas de saúde (UBS) de Mossoró, RN. O instrumento de coleta de dados incluiu um roteiro de entrevistas englobando (1) Aspectos sociodemográficos, educacionais e trabalhistas dos participantes; (2) Saúde mental e dependência química na atenção básica; (3) O trabalho do ACS na promoção da saúde mental/prevenção da dependência química e (4) Formação e qualificação em saúde mental/dependência química. Os participantes foram selecionados por amostragem de conveniência e as entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas utilizando a técnica de Análise de Conteúdo de Bardin. A pesquisa foi conduzida em conformidade com as normas éticas, e recebeu aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), sob parecer nº 5.129.974. A partir da análise das entrevistas, constatou-se que as principais dificuldades incluem a falta de formação em saúde mental e dependência química, barreiras na comunicação com usuários, insuficiência das ações de educação em saúde e entraves na rede de saúde. A formação limitada em saúde mental e dependência química, aliada à insuficiência de capacitação contínua, resulta em profissionais que frequentemente se sentem despreparados para enfrentar a complexidade do atendimento. As falhas na comunicação e a desarticulação da rede de apoio intensificam os desafios enfrentados, comprometendo a continuidade do cuidado. Por fim, os ACS destacam a importância da educação em saúde e do apoio psicológico para os profissionais de saúde, mas apontam a escassez de recursos como um empecilho para o sucesso dessas iniciativas. Portanto, para melhorar a eficácia do atendimento, torna-se crucial investir em programas de formação contínua e especializada que capacitem os ACS a lidar com as demandas de saúde mental e dependência química. Assim, reforça-se a necessidade de fortalecer a articulação entre a atenção primária e a rede de atenção psicossocial com vistas a garantir uma maior integração e coordenação dos serviços, possibilitando um atendimento integral e humanizado aos usuários e familiares.