A (co)dependência química no contexto da atenção básica: itinerários e experiências de familiares.

Resumo

A codependência química se configura como um problema de ordem social que afeta, atualmente, diversos familiares, sendo, muitas vezes, um debate negligenciado. No contexto da Atenção Primária à Saúde (APS), entende-se a necessidade de valorizar o papel da família no que tange à dependência química e destaca-se a importância de ofertar um cuidado em saúde eficaz e contínuo para esse grupo. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é analisar os itinerários e experiências de familiares de usuários de substâncias  psicoativas e o fenômeno da codependência no âmbito da Atenção Básica. Trata-se de um estudo qualitativo realizado no município de Mossoró-RN. A coleta de dados se deu a partir da realização de entrevistas individuais, baseando-se num roteiro semiestruturado, no período de fevereiro a maio de 2024. Englobou-se uma amostra de 15 colaboradores, sendo 12 familiares e três ex-dependentes químicos. A análise dos dados seguiu o referencial da análise de conteúdo temática de Bardin. Como resultados, constatou-se o quanto a codependência constitui um fenômeno que provoca variados graus de sofrimento na família e, até mesmo, no próprio usuário de substância psicoativa, podendo ser advinda, inclusive, de desordens intrafamiliares, influências externas e problemas psíquicos. Ademais, o estudo aponta para a necessidade da Atenção Básica ser uma importante rede de apoio para os familiares codependentes, funcionando como porta aberta para receber e ajudar a lidar com esses desafios, a partir da criação de grupos de acolhimento quinzenais com especialistas, como psicólogos, assistentes sociais e médicos, com o intuito de integrar esses indivíduos, que estão adoecidos, ao sistema de saúde, cumprindo, de fato, com os princípios da APS, como acessibilidade, humanização e vínculo.